sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Última Tragada


Cardoso já estava na idade do Lobo, pai de família, sargento do exército brasileiro, homem honrado da sociedade. Já tinha enfrentado a fome, o frio, a dor e os Bolivianos.

Cardoso conseguiu o respeito de sua tropa, à base de força, determinação, coragem e tragadas intermináveis de Marlboro de filtro vermelho, um autêntico cigarro de macho, que melhor refletia sua patente.

Cardoso começou a sentir certa falta de ar, com o mínimo esforço físico, além de uma tosse irritante, que impedia sua esposa Lucia, de dormir durante a noite. Depois de muita insistência de Lucia, Cardoso foi ao consultório do Dr. Alcebíades, seu médico e amigo há mais de 30 anos.

Depois de fazer alguns exames, o Dr. Alcebíades chega com uma cara de velório, segurando os exames que foram feitos dos pulmões de Cardoso.

- Cardoso, você não pode continuar fumando desse jeito, te aconselho a fumar menos, um cigarro mais fraco, para que você consiga parar de uma vez. Pois, se você continuar fumando duas cartelas de Marlboro por dia, você nunca vai chegar à idade da garça!

Cardoso fumava Marlboro desde os 14 anos, teve como inspiração os filmes americanos, que assistia na casa de sua falecida tia gertrudes. Assistia aos filmes de faroeste, com aqueles Cowboys onipotentes, montados em cavalos, que fitavam o horizonte sem pestanejar, que trazia em uma mão um laço e nos lábios um autêntico Marlboro de filtro vermelho.

Mas agora era diferente, ele tinha que renunciar a uma ideologia de vida, para viver mais alguns anos. Com a atual situação de sua saúde, imaginava-se no quartel fumando o mesmo cigarro que sua esposa, um autêntico Free Light.

- O que vão pensar de mim, o que vão pensar de mim... Repetia inúmeras vezes, enquanto descia às escadas do consultório do Dr. Alcebíades, totalmente desconsolado. O seu sonho de juventude, fora interrompido por um enfisema pulmonar. Realmente a vida era uma piada cruel.

Cardoso não era homem de se abater facilmente, muito menos de abandonar suas ideologias. Decidiu continuar fumando duas cartelas de Malboro por dia, contrariando sua esposa e suas duas filhas, que recriminavam seu ato rebeldia que era confundido pela família como teimosia de velho rabugento.

Seus subordinados e seus superiores no exército, também recriminavam tal atitude, muitos diziam que a nação não merecia perder um bravo combatente como Cardoso. Apesar das crises de tosse constante e com a falta de ar, que assolava o corpo já débil, Cardoso, não desistiu de seu propósito e continuou fumando seu Marlboro de filtro vermelho, pois não era homem de se render.

Seis meses depois, Cardoso fora internado. Antes de morrer, escreveu uma carta dizendo as seguintes palavras: “Morro, mas morro feliz, pois não conheço o gosto do alcatrão dos cigarros da Souza Cruz!”.


Texto de minha autoria.

6 Comments:

Eu amo a E.Y. said...

Invejo a postura do Cardoso. Mesmo sabendo que estava cavando a própria sepultura, não titubeou.

Abraço!

Cruela Veneno da Silva said...

tá certo o Cardoso,

FREE é coisa de homem pouco macho

Anônimo said...

Souza Cruz não dá!!! Cardoso, vá em paz...

Eu, Thiago Assis said...

Muito boa narrativa, mostrando a inflência que a televisão já exercia na sociedade desde anos atrás e, principalmente, a influência estadunidense na cultura mundial.

Não se sabe qual a crítica mais ácida em tua escrita, gostei bastante.


www.thiagogaru.blogspot.com

Jonathan Flexa said...

Gostei do texto promove a leitura corrida. A política está em todo lugar, aprecio todo esforço em fazer as pessoas pensarem no espaço ao redor.

Diogo said...

Cai de para-quédas aqui atráves do Google!

Entretando, amei a sua redação e dei muitas risadas com o final da redação aonde ele diz que não sentiu o sabor do alcatrão da souza cruz... rsrs

Parabéns cara!

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